NÃO! Não dá, esse passado que vive a me chamar.
Que me fez aventurar-me com as palavras, coisa a qual
definitivamente não fico à vontade.
Mas é! Ele transborda, como vazante de rio, de usina; analógica
e erroneamente, preciso transformar essa energia (quase) térmica em energia
mecânica. Vamos escrever.
Meus pensamentos parecem pó soprado ao vento. Tantos e tão
desconexos que pairam confusos em espirais, rodamoinhos e cicloides. Mas
preciso baixar um pouco a poeira, PARA! O que faço é menos que compor e mais
que escrever, acredito. Estou sufocada pelo inalar desse pó, preciso cessar
essa ventania, interligá-los numa aglutinação molecular, mas não sei como,
então tento catar os grãos. Mas mal e mal consigo catá-los, que organizá-los
torna-se infinitamente mais difícil. Desculpa, fantasma leitor, por te enrolar
tanto, lhe dizer essas prolixidades dessa maneira tão deficiente do uso da
expressividade. Queria eu saber usar as palavras, puramente como as são, sem
todas essas analogias e imagens e afins. Já quis que assim soasse bonito
(comparação com represa, pó, vento) mas é só minha incapacidade de fazer-me
entender, preciso desses recursos visuais, é-me o caminho mais fácil. Não que eu
acredite que a escrita necessite ser feita pelo caminho mais difícil, pelo
contrário, mas ela necessita de recursos: vocabulário, expressão, pontuação.
Também ideias, sensações, sarcasmo e emoções; de preferência, esses últimos nas
entre linhas.
Certo, um grão a menos.
Como posso, tenho muito mais futuro do que passado, por que
então insisto em ocupar meu presente com o que jamais acontecerá (novamente)?
Será que me falta algo? Ou é só uma lição pela qual preciso passar?
Lahr, por que te dói tanto? Será que você trocou as dores do
futuro pelas do passado? As dores da incerteza pelas das certezas? Não te
conformas com as dúvidas que se tem ao redor da única certeza futura, o teu fim?
Ou... ou o quê?
Dois grãos a menos.
A vida é assustadoramente vasta. Será que alguém já enxergou
os seus limites, se é que ela os têm...?
Não, a vida é maravilhosamente bela. O tempo é curto demais. O tempo, dos sonhos é o carrasco... ou seria a ignição?
“A vida só é preciosa porque termina”. Preciosa? Por que termina? Soa-me
arrogante demais atribuir o valor de algo à outra coisa que lhe é independente.
A vida tem valor próprio, seja ele intrínseco, como o valor de uma
moeda, ou extrínseco, como é o amor de enamorados. O amor? Sim, o amor. Afinal,
não se enamora certa pessoa porque essa lhe faz bem? Seu valor não se relaciona
com o bem que ela lhe provoca, portanto, algo externo à pessoa enamorada? Sei que parece confuso, mas tente, pense
nisso, tem lógica.
Mas ainda, poderíamos poupar todo esse raciocínio com a
simples pergunta: Se a vida só é preciosa porque termina, tornar-se-ia
desprezível se fosse infinita?
A ventania baixou. Percebi que não posso deixá-la findar-se
totalmente. O pó estagna-se fora de meu alcance. Depois continuo.
Foram três grãos e meio a menos.